
Durante o interrogatório, ao tratar sobre a parte da denúncia
em que o MPF narra o suposto ‘comando’ dos esquemas na Petrobrás por parte de
Lula, o juiz federal Sérgio Moro fez uma série de perguntas sobre o
conhecimento que o petista tinha sobre as indicações de diretores à Petrobrás e
a respeito dos crimes cometidos contra a estatal. O ex-presidente negou ter
conhecimento dos ilícitos e de ter relação próxima com as indicações políticas
na petrolífera. Ele atribuiu aos partidos políticos, bancadas partidárias, e
aos ministros a função de indicar nomes, mas admitiu que tinha a palavra
‘palavra final’, já que, se fosse o contrário ‘não precisaria ter presidente’.
No contexto desta suspeita levantada pelo MPF, Moro
questionou Lula sobre um encontro com o ex-diretor da Petrobrás, Renato Duque,
no Aeroporto Internacional de Congonhas. O ex-agente público admitiu, em
depoimento, ter sido questionado por Lula, nesta ocasião, sobre se teria contas
na Suíça. Segundo o ex-agente público, ao ouvir uma negativa sobre a
propriedade do dinheiro no exterior, Lula teria dito que ‘tranquilizaria a
ex-presidente Dilma’. A reunião, de acordo com o depoente, teria acontecido em
2014, quando o petista não estava mais no cargo.
“Tive uma vez no aeroporto de
Congonhas, se não me falha a memória, porque tinha vários boatos de corrupção e
de conta no exterior. Eu pedi para que o Vaccari porque eu não tinha amizade
com o duque trazer o duque para conversar. Foi numa gala em Congonhas. E eu fiz
a pergunta simples: tem matérias nos jornais e denuncias que você tem dinheiro
no exterior. Que tá pegando da Petrobrás e colocando no exterior. Você tem
conta no exterior? Ele disse: ‘eu não tenho’. Eu falei: ‘acabou, se não tem,
não mentiu pra mim, mentiu para ele mesmo’”, afirmou Lula.
“O Vaccari tinha mais amizade com ele do que eu. Eu não tenho
nenhuma. Eu não sei se tem amizade. Liguei para o Vaccari e falei: Vaccari,
você tem como pedir para o Duque ir numa reunião aqui? Ele falou tenho e ele
levou duque lá”, complementou.
Inicialmente, antes da declaração sobre o encontro, Lula
havia dito ao juiz Sérgio Moro que só tomou conhecimento da relação de Vaccari
com Duque quando foi denunciado pelo Ministério Público Federal. “Não sei. Eu
sei que tinha porque, na denúncia, aparece que eles tinham relação”.
Mais tarde, no mesmo depoimento, após relatar a reunião em
que admitiu ter pedido a Vaccari para intermediar o contato com o ex-diretor da
estatal, o ex-presidente foi questionado pelo juiz Sérgio Moro: “Salvo
equivoco, eu perguntei há pouco se o senhor sabia que ele tinha uma relação e o
senhor disse: ‘não’. Então o senhor tinha conhecimento de que tinha essa
relação”.
“Eu pedi para o Vaccari e perguntei se ele tinha como trazer
o Duque numa reunião e ele falou que tinha. Isso não implica que ele tenha
relação. Implica que ele podia conhecer”.
Ao ser questionado novamente se sabia ou não da relação entre
ambos, Lula voltou a negar. “Eu quero lembrar o seguinte. Relação de amizade é
uma coisa e relação é outra. Eu posso sair daqui dizendo: ‘olha, eu conheci dr.
Moro, eu tenho relação com ele’. E, na verdade não tenho”.
O juiz Sérgio Moro voltou a perguntar sobre o tipo de relação
que o ex-tesoureiro do PT tinha com o diretor da Petrobrás.
“Não sei. O Vaccari está preso, você pode perguntar para o Vaccari.
O Duque está preso, você pode perguntar ao Duque”, rebateu.
No âmbito dos esquemas da Petrobrás, João Vaccari Neto foi
condenado sob acusação de que intermediava propinas ao PT dentro da estatal. De
acordo com depoimento de Renato Duque, o ex-tesoureiro era o arrecadador de
vantagens ilícitas para o partido no âmbito de contratos na petrolífera.
A denúncia do Ministério
Público Federal sustenta que Lula recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio –
de um valor de R$ 87 milhões de corrupção – da empreiteira OAS, entre 2006 e
2012. As acusações contra Lula são relativas ao recebimento de vantagens
ilícitas da empreiteira por meio do triplex 164-A no Edifício Solaris, no
Guarujá (SP), e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, mantido pela
Granero de 2011 a 2016. O petista é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção.
Triplex. O Edifício Solaris era da Cooperativa Habitacional
dos Bancários (Bancoop), a cooperativa fundada nos anos 1990 por um núcleo do
PT. Em dificuldade financeira, a Bancoop repassou para a OAS empreendimentos
inacabados, o que provocou a revolta de milhares de cooperados. O ex-tesoureiro
do PT João Vaccari Neto foi presidente da Bancoop.
A ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em 2017) assinou
Termo de Adesão e Compromisso de Participação com a Bancoop e adquiriu ‘uma
cota-parte para a implantação do empreendimento então denominado Mar
Cantábrico’, atual Solaris, em abril de 2005.
Em 2009, a Bancoop repassou o empreendimento à OAS e deu duas
opções aos cooperados: solicitar a devolução dos recursos financeiros
integralizados no empreendimento ou adquirir uma unidade da OAS, por um valor
pré-estabelecido, utilizando, como parte do pagamento, o valor já pago à
Cooperativa.
Segundo a defesa de Lula, a ex-primeira-dama não exerceu a opção
de compra após a OAS assumir o imóvel. Em 2015, Marisa Letícia pediu a
restituição dos valores colocados no empreendimento.
Bens. A Lava Jato afirma que a OAS pagou durante cinco anos
pelo aluguel de dez guarda-móveis usados para armazenar parte da mudança do
ex-presidente Lula quando o petista deixou o Palácio do Planalto no segundo
mandato. A empreiteira desembolsou entre janeiro de 2011 a janeiro de 2016, R$
1,3 milhão pelos contêineres, ao custo mensal de R$ 22.536,84 cada.
Toda negociação com a transportadora Granero teria sido
intermediada pelo presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que indicou a
OAS como pagante com o argumento de que a empreiteira é uma “apoiadora do
Instituto Lula.” Para investigadores da Lava Jato, os fatos demonstram “fortes
indícios de pagamentos dissimulados” pela OAS em favor de Lula. Isso porque o
contrato se destinava a “armazenagem de materiais de escritório e mobiliário
corporativo de propriedade da construtora OAS Ltda”, mas na verdade os
guarda-móveis atendiam a Lula.
Fonte: Estadão
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