Violentada na infância, uma
mulher prendeu o próprio estuprador em uma ação policial, em dezembro de 2016.
Ela reencontrou o homem 14 anos após o crime. A história veio à tona em
reportagem da BBC publicada nesta quarta-feira, 6.
Tábata (nome fictício) tinha
só nove anos quando conheceu o fotógrafo de 39, na época casado, no verão de
2002. O homem, que era amigo de seus pais, a estuprou durante dois anos e meio.
Ela explicou, em entrevista à
BBC Brasil, que a decisão de falar sobre a assunto deve encorajar outras
mulheres a denunciar agressões. "Denunciar e mexer nisso foi um processo
de cura", diz.
A relação de Tábata, ainda
criança, com o agressor, que não teve nome revelado pela BBC, começou quando as
famílias passaram a acampar juntas no verão. Mas os fins de semana não eram só
de viagens e trilhas. A policial relata que ele se aproveitava da sua
fragilidade e do isolamento, em meio às árvores, para agir. Os campings ficavam
próximos ao rio Uruguai, na divisa entre os estados de Santa Catarina e Rio
Grande do Sul.
Relato
"Logo, ele (o fotógrafo)
começou a me molestar. Ele se aproximava e ficava passando a mão em mim. Eu não
entendia. Aquilo me incomodava, mas eu não via o caráter criminoso naquilo que
ele estava fazendo. Não falei nada para a minha família, até hoje não sei dizer
o porquê", contou à BBC Brasil.
"Certa vez, ele abusou de
mim quando ele precisava buscar água (para o acampamento) e me fizeram ir com
ele para ajudar a carregar os galões. No caminho, ele se aproveitou para ficar
passando a mão em mim, mas eu consegui escapar e correr na frente",
continua. "Meus pais nem perguntaram por que cheguei antes dele. Nem
passava pela cabeça dos meus pais que ele pudesse abusar de mim porque
confiavam muito nele".
Segundo a BBC, a frequência
dos abusos foi aumentando, e a criança passou a se sentir cada vez mais
incomodada. A vontade de Tábata era contar a verdade aos pais, mas o medo era
maior. A vítima só entendeu o crime aos 11 anos.
"Meu pai sempre foi muito
estressado, pilhado. Eu tinha medo que ele pudesse matar ele (fotógrafo), ir
preso. Começam a passar mil coisas na cabeça de uma criança. E também tem o
receio de que seus pais não vão acreditar no que você está passando",
desabafa.
"Ele dizia: 'Só um
pouquinho, só um pouquinho'. Ele nunca me agrediu com tapas, mas me segurava à
força, mesmo eu sendo uma menina grande para a minha idade", lembra
Tábata.
Reviravolta
Ainda de acordo com a BBC
Brasil, no reencontro, Tábata conduziu o agressor, algemado, para uma cela no
xadrez. Para ela, a situação representou um "encerramento de um
ciclo". Após ser denunciado, a Promotoria descobriu que ele tinha um
histórico de abusos e o denunciou por pedofilia. A primeira audiência só veio
um ano depois, em 2012.
Tábata também contou à BBC
Brasil que o fotógrafo negou as acusações no tribunal. "Eu só li a
sentença. Mas ele disse que eu inventei tudo aquilo porque eu queria me vingar
dele. Ele dizia que eu fiz aquilo porque meu pai não teria conseguido sair com
a esposa dele", conta Tábata.
Ele foi condenado a sete anos
e seis meses em regime fechado pelo estupro. A confirmação, em segunda
instância, veio no ano seguinte, quando a vítima, já aos 24 anos, terminava seu
curso na Academia da Polícia Civil de Santa Catarina. Em dezembro do ano
passado, cerca de um ano após ser preso, o fotógrafo saiu da prisão. Ele teve a
pena reduzida por bom comportamento e hoje está livre.
Via Opovo
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