Em relato devastador para ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o
empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, afirmou categoricamente nesta
quinta-feira, 20, que ‘o apartamento era do presidente Lula’. O executivo se
referia ao tríplex 164-A do Condomínio do Edifício Solaris, no Guarujá, litoral
de São Paulo.
“O sr. entende que deu a propriedade do apartamento para o
presidente?”, indagou o advogado de Lula Cristiano Zanin Martins.
“O apartamento era do presidente Lula. Desde o dia que me passaram para
estudar os empreendimentos da Bancoop já foi me dito que era do presidente Lula
e sua família e que eu não comercializasse e tratasse aquilo como propriedade
do presidente”, afirmou o empreiteiro.
Durante o depoimento, Zanin questionou Léo Pinheiro sobre a chave do
apartamento.
“Não existia a chave, porque não existia o andar feito”, afirmou.
A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que Lula recebeu R$
3,7 milhões em benefício
próprio – de um valor de R$ 87 milhões de corrupção – da empreiteira OAS,
entre 2006 e 2012. As acusações contra Lula são relativas ao recebimento de
vantagens ilícitas da empreiteira OAS por meio do triplex no Guarujá, no
Solaris, e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, mantido pela
Granero de 2011 a 2016.
O Edifício Solaris era da Cooperativa Habitacional dos Bancários
(Bancoop), a cooperativa fundada nos anos 1990 por um núcleo do PT. Em
dificuldade financeira, a Bancoop repassou para a OAS empreendimentos
inacabados, o que provocou a revolta de milhares de cooperados – eles protestam
na Justiça que a empreiteira cobrou valores muito acima do previso
contratualmente. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi presidente da
Bancoop.
A ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta em 2017) assinou Termo de
Adesão e Compromisso de Participação com a Bancoop e adquiriu ‘uma cota-parte
para a implantação do empreendimento então denominado Mar Cantábrico’, atual
Solaris, em abril de 2005.
Em 2009, a Bancoop repassou o empreendimento à OAS e deu duas opções
aos cooperados: solicitar a devolução dos recursos financeiros integralizados
no empreendimento ou adquirir uma unidade da OAS, por um valor
pré-estabelecido, utilizando, como parte do pagamento, o valor já pago à
Cooperativa. Em 2015, Marisa Letícia pediu a restituição dos valores colocados
no empreendimento.
Segundo Léo Pinheiro, a primeira conversa com Vaccari sobre o tríplex
ocorreu em 2009.
“O João Vaccari conversou comigo, dizendo que esse apartamento, a
família tinha a opção de um apartamento tipo, tinha comprado cotas e tal, mas
que esse apartamento que eles tinham comprado estava liberado para eu
comercializar. E foi comercializado e foi vendido. E que o triplex, eu não
fizesse absolutamente nada em termo de comercialização”, disse.
(Estadão)